Ao menos, escolham um profissional!...


Em Catanduva, interior de São Paulo, o palhaço Pimpão entrou recentemente na corrida eleitoral, pedindo aos municipes para votarem num palhaço de verdade. O povo gostou da mensagem e hoje o homem é vereador. Na cerimónia de tomada de posse, ele fez uma revelação interessante: o próximo passo é chegar à presidência. O que quererá o palhaço dizer com isso? Para bom entendedor...hehehe

Paulina Chiziane: mulheres, mulatos, assimilados, etc

Gostei de ler O Alegre Canto da Perdiz, último livro de Paulina Chiziane. Para mim, a obra é mais interessante pela intensidade com que a autora se exprime do que propriamente pela sua arquitectura romanesca. Paulina realmente discute Moçambique – a colonização, a condição feminina, o mulato, as janelas da sobrevivência, com alguns tentáculos a atingir em pleno o pós-independência. Curiosamente, ela aborda, por exemplo, a assimilação, mas retomando e aprofundando, de certo modo, o discurso oficial, a visão da assimilação como tese e sem antítese. Creio ser tempo de também se olhar para o outro lado do processo e admitir que eram filhos de assimilados a maior parte dos inquilinos da Casa dos Estudantes do Império, incluindo grande parte dos estrategas do nacionalismo africano, tendo das suas mãos brotado as primeiras versões dos estatutos dos movimentos de libertação da ex-colónias portuguesas. Uma leitura mais completa – e equilibrada - do processo de assimilação dir-nos-ia que, embora concebida para reforçar o domínio de Portugal nas colónias, a assimilação acabou por ultrapassar a caricatura dela se tem feito amiúde. O processo de assimilação também gerou as elites que se voltaram contra o sistema e não se consegue fugir delas quando se fala em nacionalismo. O apoio das igrejas a pessoas como Eduardo Mondlane não esgota o assunto. Obrigado, Paulina por esta provocação que certamente vai animar os nossos debates.

Sempre quis saber como isso era...


Como é que a vencedora do Concurso Miss Universo vem sempre da Terra?

Rich Hall

Selecções Reader’s Digest, Novembro de 2008

(Na imagem, Riyo Mori, Miss Universo 2007)

Há mais desenvolvimento em Moçambique?

Pelo menos, há mais bicicletas e não suficiente desenvolvimento, respondem Joseph Hanlon e Teresa Smart, no seu recente livro, editado pela Missanga, Ideias & Projectos, Lda. É uma obra interessante, embora com muita coisa repetida de livros anteriores, especialmente dos de Joseph Hanlon. Mas tem ideias fortes: 1. O colonial-fascismo e o socialismo do pós-independência não prepararam os moçambicanos para enfrentar os actuais desafios da globalização; 2. Nem a Frelimo nem os doares têm as mãos limpas nos meandros da corrupção e, sobretudo, 3. “Moçambique não precisa de esperar por investidores estrangeiros a aterrarem nos seus aeroportos. Quem pode desenvolver Moçambique já cá está. Mas precisa de treino, apoio a longo prazo e crédito – que o Estado desenvolvimentista pode organizar e providenciar.” O livro constitui um bom pretexto para debater o nosso Moçambique, incluindo a forma atabalhoada como está a ser feita a distribuição dos famigerados “7 biliões” a nível dos distritos.

A Flauta do Oriente


Lancei A Flauta do Oriente, o meu terceiro livro, em Tete, no Hotel Zambeze. Na presença da minha mãe, dos meus irmãos e demais familiares, dos meus amigos de infância, vizinhos, enfim, a minha gente.
De facto, lançar um livro na terra natal é outra coisa. Obrigado Ndjira, obrigado Mcel. Estou-vos grato por terem aceite o desafio de “desmaputizar” o evento.
Obrigado, Isabel por aceitares vir a Tete e apresentar o meu livro.
Depois da festa, vou tentar terminar Relações Públicas com Piripiri, uma brincadeira à volta de algumas das minhas experiências profissionais no domínio da gestão da imagem.
Vamos lá ver o que sai.

De volta aos blogues

Andei ausente deste espaço nos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro. Digamos que a ausência de Setembro e Outubro foi uma espécie de saguate pela medida grande. A vida lá fora não está nada fácil. Minhas desculpas, no entanto, pelos desencontros e toda a minha gratidão pela vossa persistência nas visitas ao blogue. Aquele abraço.

Ao volante no interior

Não tenho conseguido fazer-me presente com regularidade neste espaço desde meados do mês passado. Motivo: tenho estado ao volante pelas estradas do interior. Esta descontinuidade vai durar pelo menos todo este mês de Julho e Agosto. Mas sempre que me fôr possível, tentarei publicar qualquer coisa. Mas aviso desde já que não é coisa que se fie. Aquele abraço.

Aguardente de maçanica, cegueira e mitos

O jornal Domingo publicou há semanas um interessante suplemento de saúde que é uma autêntica pedrada no nosso charco editorial. Está de parabéns o seu coordenador, o meu amigo André Matola. Tomei nota, entre outras coisas, que afinal não passa de mito a tese segundo a qual a aguardente de maçanica é a responsável pela proliferação de cegos na cidade de Tete. De acordo com a publicação, o álcool que se obtém da maçanica é etílico e não metílico. Este último, sim, pode levar-nos à condição de cegos. Doravante, a aguardente de maçanica passa a estar nos meus miolos acima de qualquer suspeita. Deliciem-se com a bebida, mas, é claro, nada de exageros.

Maldade municipal

Em Inhambane, os serviços municipais entenderam colocar uma lomba clandestina à entrada da cidade, quer dizer, sem nenhuma sinalização que alerte os automobilistas, especialmente os forasteiros, para a aproximação ao obstáculo. Para uma terra que é conhecida como sendo da boa gente, aquela armadilha só pode ser resultado de uma maldade municipal.

Amarelo e preto é mesma coisa!

Cai de quatro quando soube que os chineses afinal são pretos. Isto, pelo menos na África do Sul onde a sua comunidade chega a atingir o número de 250 mil pessoas. No despacho lido pelo jornalista João de Sousa, a partir de Pretória, ficou claro que a recente mudança de cor tem mais a ver com mecanismos de enriquecimento e menos com a a epiderme. Sendo pretos, os chineses passam a estar abrangidos pela política do black empowerment, com claros ganhos económicos. É por estas e outras que sempre olho com desconfiança para a retórica da classe política seja ela de onde for.

Citação

Timor não é um país de língua portuguesa nem a maioria dos timorenses fala português.

Mia Couto, in suplemento cutural do Noticias, 18/06/2008

De sul a noroeste

Recentemente, fiz por estrada o percurso que vai de Maputo ao Songo, sede do distrito de Cabora Bassa, com escalas demoradas em Inhambane, Massinga, Vilankulo, Chimoio, Vandúzi e Catandica. No Sul, o troço está péssimo a partir de Massinga. Cerca de duas horas depois, a dor de cabeça passa. Já no Centro, volta a haver problemas sérios entre as sedes de Guro e Changara: há mais buracos do que asfalto. No resto, uma maravilha.

Mambas, cães e derrotas


Está quente o debate sobre o ciclo de derrotas dos Mambas, a nossa selecção nacional. Através da Rádio Moçambique, um ouvinte fez há dias uma velha sugestão à Federação Moçambicana de Futebol: mudar o nome da equipa de todos nós. Mas para mim, a novidade extrema está no argumento. Ele observou que as últimas selecções que nos bateram têm quatro patas. Melhor, têm nome de animais quadrúpedes, enquanto nós continuamos, se calhar, a única selecção de futebol no mundo a ostentar o nome de réptil. Genial o argumento e nada tenho contra a ideia de deixar de rastejar. Acho bem sacudir a poeira, mas não nos esqueçamos do ensinamento de um velho linguista: o cão ladra, meus amigos, mas a palavra «cão» não ladra nem morde. A foto do adepto destroçado que a Cláudia Manjate me enviou por e-mail veio mesmo a calhar. Pena que não saibamos, ela e eu, quem é o autor da foto que apanhou bem o efeito das quatro patas.

Por acaso...



Por feliz acaso, trabalho com Regina Duarte que me convidou para ver a exposição do marido. Lá dei um jeito na agenda e consegui acomodar o momento especial de uma camarada cujo marido, por acaso, tirava fotografias. O que vi lá, isto é, no Franco-Moçambicano há semanas foi muito mais do que as fotografiazinhas de um marido dedicado. Descobri foi um grande artista da imagem chamado Bernard Adrien e que é o autor da foto que ilustra este post.

Eu e o Mosquito

Eu e o Mosquito
trepamos as quatro paredes
do meu quarto,
olho no olho,
cada um se esmerando
para matar o outro.
Enclausurado o veneno
em cada uma das quatro patas
traçamos de combate, as estratégias
estudamos o currículo do inimigo,
pleno de condecorações,
súbito, o medo nos dilui e nos mata,
mas ainda trocamos o último olhar,
o olhar do nojo, de sabermos
que nós os dois, o Mosquito e eu,
somos os animais,
que mais matamos no mundo

Mbate Pedro in O Mel Amargo

Barak Obama derrota Hillary Clinton


Imposto abrange juros dos depósitos a prazo

Apesar da crónica alergia à transparência e à cultura de prestação de contas, o Estado moçambicano não pára de me surpreender com a sua capacidade de ir ao bolso dos cidadãos. Por força da lei 33/2007, os bancos comerciais foram obrigados a pendurar este aviso nos seus balcões: Desde 1 de Março de 2008, os juros dos depósitos a prazo obtidos por pessoas singulares são considerados rendimentos de capitais, estando sujeitos a IRPS, por retenção na fonte à taxa de 10 por cento. Agora aguardo pela chuva de apelos para a poupança e para se meter mais dinheiro nos circuitos formais. Que incoerência!

Rosa Langa fala de mulheres no Brasil

É sempre agradável receber um telefonema de longe. Aconteceu-me há dias, era uma chamada da Rosa Langa, jornalista e autora de Moçambique, Mulheres e Vida, a informar-me da Alemanha que, a partir de amanhã, dia 4, estaria no Brasil. Os jornais brasileiros já noticiam a presença da baixinha pelas bandas do Rio de Janeiro, onde vai dar uma conferência no quadro do Festilip, Festival de Teatro da Língua Portuguesa. As notícias também já dão conta do Gungu e do Mutumbela Gogo entre os grupos participantes. Assim é que é, Moçambique, com uma delegação de peso - com adidos culturais ou sem eles, não é, ó Bayano? E a coisa vai até 15 de Junho.

Xenofobia nos tribunais

Não à retaliação, é verdade. Mas tónica também deve ser dada à responsabilização: os mentores dos ataques xenófobos devem ser levados à barra dos tribunais. Neste ponto, o bispo D. Paulo Mandlate tem toda a razão. Porque tem de haver um mecanismo dissuasor mais forte que os discursos de condenação pública e as forças armadas sul-africanas a patrulhar as ruas. Nós não temos fibra para andar a activar e desactivar o Centro Nacional Operativo de Emergência a toda a hora, com o agravante de os nossos compatriotas estarem a regressar ao país para casa nenhuma. De resto, oiço falar dessa xenofobia desde os anos 80 mas parece que só agora é que a coisa tomou proporções assustadoras.

Menos uma dor de cabeça!

Ao folhear as revistinhas de que sou assinante, descobri este fim-de-semana uma novidade que certamente vai fazer muita diferença na vida de muito boa gente, especialmente entre as pessoas que por razões de ordem diversa têm estado a andar com mais de um telemóvel de um lado para o outro. A SAMSUNG acaba de lançar o primeiro modelo que permite juntar num único telemóvel dois cartões SIM, com números diferentes, podendo o utilizador operar com ambos sem ter de reiniciar o equipamento. O modelo de estreia desta tecnologia é o novo SGH-D880. Com a nossa onda do "estamos juntos" e do "tudo bom", estou quase certo de que a cena vai fazer muito êxito por estas bandas.

A Travessia

A Travessia, crónica minha publicada hoje pelo jornal SAVANA. Leia aqui.

Patetice nas bombas

Na guerra pelas quotas de mercado, as empresas fazem das tripas coração para conquistar novos clientes e fidelizar os antigos. Não é por acaso que as bombas de gasolina oferecem uma série de serviços adicionais, geralmente gratuitos, como sejam a verificação do óleo do motor e da água no radiador, a limpeza dos pára-brisas e coisas que tais. Mas há um detalhe que escapa ao meu entendimento: por que carga de água os homens das bombas, sempre que podem, fingem que encher os pneus não é trabalho deles?

Citação

Now the West is asking why China and Africa are "silent" over Zimbabwe? The answer is: "constructive engagement". Do they think we have short memories?

Chris Haambote, Lusaca

in New African, nº 473, Maio de 2008

Neyma: basta uma meia dúzia de adidos

A cantora Neyma está na direcção certa. Em entrevista ao Magazine Independente, ela disse que o Governo podia fazer mais pela promoção da música moçambicana no estrangeiro. Também eu acho que sim e uma das fórmulas é até bastante velha: os adidos culturais. Com uma meia dúzia de adidos nas representações diplomáticas de Moçambique nas principais capitais da cultura e do mecenato, outro galo cantaria. Não precisamos de ir longe para testar a receita. Basta só olhar para a diferença que faz o trabalho dos adidos culturais na percepção que em Moçambique hoje temos da cultura brasileira, portuguesa ou francesa. A falta de dinheiro não explica tudo.

Citação

"Não está em causa o discurso correcto do ministro, que eu aprovo, mas questiona-se, sim, o fosso entre o discurso e o que encontramos no terreno, da falta do livro até ao pulular de pseudo-estabelecimentos de ensino superior, que ninguém manda fechar por notória falta de qualidade."
Sérgio Vieira, in Domingo, 18 de Maio de 2008, pág. 5

Craveirinha: a memória revisitada


Sempre vale a pena revisitar a memória de José Craveirinha. Leia a minha contribuição aqui. Pelos jornais, soube que por ocasião do 28 de Maio, data de nascimento do poeta, Tânia Tomé organiza hoje, quarta-feira, um recital no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Também me chegou às mãos ontem um convite para assistir amanhã, quinta-feira, ao lançamento do Núcleo de Amigos José Craverinha (NAJOC) e exposição de peças da Casa-Museu, no Instituto Camões, também em Maputo. Do resto do país, só me chegam pedaços de silêncio, o que estranhamente não me espanta. São coisas da nossa terra.

A maquilhagem do choro

A Maquilhagem do Choro, crónica publicada ontem pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada. Leia aqui.

Tenho que pensar no futuro dos meus filhos

No Brasil, já se debateu muito a questão da nacionalidade. A Primeira Dama, a dona Marisa Lula, desde 2006 que possui o passaporte da Comunidade Europeia. "Para quê?", perguntou-lhe a Imprensa. "Tenho de pensar no futuro dos meus filhos", foi a resposta que se obteve. Tal como Marisa Lula, a esposa de Gilberto Gil também é descendente de italianos e as leis desse mediterrânico país benefeciam, nesses casos, os cônjuges. Por estas alturas, o actual ministro da Cultura do Brasil já deve ser igualmente cidadão italiano. Isto, por via do casamento com a dona Flora Gil. Com transparência e sem espertezas. Porque o lema é: ou haja moral ou comam todos. É que eu também tenho filhos e preciso de pensar no seu futuro.

Kama Sutra

Após a leitura de Kama Sutra, fiquei mais esclarecido sobre os enfoques que cada um de nós usa. Nunca ninguém me tinha dito, por exemplo, que no livro de Vatsyayana, escrito há mais de 2000 anos, se podia aprender que o tempo é um recurso escasso e que por isso os homens deviam ter cuidado com a sua forma de emprego no dia-a-dia. Segundo o autor, só alcançam a felicidade os homens que souberem dedicar uma parte da sua vida a constituir património e amigos, outra a gozar a vida em toda a sua plenitude através dos cinco sentidos e outra ainda, a última, munindo-se de ferramentas espirituais para a grande viagem depois da morte. Nos seus comentários, os meus amigos ficavam-se pelas posições sexuais e não muito mais do que isso infelizmente. Leiam de novo o Kama Sutra, por favor.

O Olhar de Salinga

O Olhar de Salinga, crónica publicada hoje pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada.

Parabéns LAM

No dia 14 de Maio, a LAM comemorou o seu 28º aniversário, oferecendo aos passageiros vôos com uma hora de atraso. Juntei-me à festa da nossa única escolha, fazendo o trajecto de Nampula a Maputo. Tive uma agradável surpresa ao folhear a revista de bordo (nrº 43, página 6). A LAM diz que o Indice de Pontualidade dos Vôos subiu para 89,5 por cento, «valor considerado de referência na indústria de aviação civil mundial». Uma maravilha!

LAM: ao que chegamos!

O meu vôo para Nampula estava marcado para as 13 horas. Depois, foi alterado para as 16.30 horas, com almoço, que declinei, oferecido aos passageiros num restaurante perto do aeroporto. A seguir, o descalabro foi total. As Linhas Aéreas de Moçambique decidiram adoptar o rumor como ferramenta de trabalho e por essa via ficamos a saber que só se sairia de Maputo - em princípio - às 21 horas!!! Aproveitei dar um salto à casa para partilhar convosco esta vergonha a que a LAM chegou, com atitudes que revelam uma total falta de respeito para com os seus passageiros. O absurdo desta falta de profissionalismo é que nem o Serviço de Informação instalado no aeroporto tinha informação sobre esta última alteração. Mas como não tenho outra escolha, daqui a nada, tenho de voltar ao aeroporto e francamente não sei o que me espera para lá dos irrecuperáveis estragos que me aguardam em Nampula. Simplesmente, é inadmissível, meus senhores!

A bandeja de Songai

A bandeja de Songai, crónica publicada hoje pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada.

Adesão, aderência e manifestações

Ultimamente tenho ouvido falar com frequência de manifestações e de aderência. Fraca aderência das pessoas para aqui, forte aderência das pessoas para ali. Na rádio, nos telejornais, em quase toda a parte.Que eu saiba, o termo mais apropriado para descrever a participação das pessoas nas manifestações seria adesão. Os sapatos dos manifestantes é que podem ter problemas de aderência ao asfalto, seja ele de betume, de pedras ou blocos de cimento. Se os sapatos aderem bem ao piso, ninguém escorrega. Se os sapatos tiverem problemas de aderência – e não de adesão – muitos manifestantes vão de certeza escorregar, podendo até cair, à chegada dos agentes da Polícia.

Citações

O consumo do arroz em Moçambique atinge actualmente as 500 mil toneladas anuais, das quais 450 mil (90%) são importadas, particularmente do mercado asiático.

Boaventura Mucipo, in O País, 25.04.2008

Temos a experiência do do arroz do Chókwè nos anos 80. Nessa altura, era o arroz mais caro do mundo. O ponto não é produzir dentro de Moçambique; é produzir dentro de Moçambique com uma base sólida e competitiva. Se somos capazes de fazer isso, óptimo vamos fazer.

Carlos Nuno Castel Branco, in O País, 25.04.2008.

Estudar, estudar, estudar sempre, dizia o slogan do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Como não deu certo, foi-se ao plano B: "todas as escolas, a qualquer nível, TÊM DE TER 99 por cento de aproveitamento anual". Ora muito obrigado!

Fernando Manuel, in Savana, 25.04.2008

O julgamento teve um atraso de vinte minutos porque Anibalzinho não queria abandonar a cela antes de tomar o pequeno-almoço.

Raul Senda, in Savana 25.04.2008

O primeiro a cair...

Em 2003, Raila Odinga insurgiu-se contra uma lei herdada do tempo colonial que veda o acesso às sessões do Parlamento queniano a quem use roupas africanas. Na altura ele era Ministro das Estradas, Obras Públicas e Habitação, apresentou-se no Parlamento sem o fato nem a gravata da praxe. Resultado: foi expulso da sala. O combativo político voltou à carga em sessões seguintes e, para acalmar os protestos, o Presidente do Parlamento autorizou a entrada de Odinga e dois colegas seus em trajes africanos, prometendo entretanto que se iria reflectir profundamente sobre assunto. Curiosamente, a lei ainda está em vigor - 44 anos após a proclamação da independência! - e Odinga agora é Primeiro-Ministro. Os observadores morrem de curiosidade para saber quem cairá primeiro: a lei ou Odinga?

Forte abraço, Sacur

Esta manhã ouvi a crónica do Sacur Latibo, transmitida para o Jornal da manhã a partir da Beira. Gostei do facto por duas razões. Primeiro, porque é sempre com muito gozo que me delicio com as crónicas do Sacur às quartas-feiras. Segundo, e esta é a razão de ser desta mensagem, porque mesmo sendo delegado da Rádio Moçambique agora num Emissor Provincial de maior complexidade, ele mantém o cultivo da crónica. Coisa rara entre nós - onde a cultura dominante é ganhar-se o gestor e quase sempre se perder o técnico, se assassinar o artista. Forte abraço, Sacur.

Inovar, inovar, inovar


Lançou-se no mercado com os famosos rolos de papel higiénico de côr preta e o público da Europa, dos Estados Unidos e do Japão aderiu à moda. Depois, foi só a Renova passar a colorir os rolos consoante as recomendações dos estudos de mercado, sempre usando papel de texturas suaves. Na última edição da revista Exame, Paulo Pereira da Silva, o líder da empresa, surpreendeu-me com o desafio que agora se faz a si mesmo: por que não papel higiénico transparente?

Chissano ou Guebuza?

No telejornal da noite do último sábado, eu ouvi a apresentadora Hermínia Machel a oferecer-nos um novo Presidente da República de visita a Nampula: Joaquim Armando Guebuza! O lapso é humano. Mas tornou-se uma nódoa profissional por a coisa ter ficado sem emenda ao longo de todo o serviço noticioso da Televisão de Moçambique naquele dia.

34 anos depois


Abro o correio esta manhã e vejo uma mensagem curta da Isaura Ibraimo. Dá-me conta da chegada a Maputo, amanhã, sábado, dia 26, no vôo da TAP, de José Rodrigues dos Santos, o conhecido jornalista e escritor cujo boneco no "Contra Informação" tem as orelhas bem pronunciadas. Embora nascido na Beira, foi a cidade de Tete que o acolheu ainda bebé. É por isso, se calhar, que a malta ribeirinha lhe fará todas as honras da casa, com João Schwalbach a encabeçar a matutina recepção no Aeroporto Internacional de Maputo (à qual todos os interessados estão desde já convidados a juntar-se). A entrada é livre para o jantar no mesmo dia no restaurante da Costa do Sol, cada conviva pagando a sua conta. Só duvido que Isaías Marrão embarque nesta coisa do onde-comem-dois-comem-três, estendendo, por exemplo, a oferta da hospedagem em sua casa em Tete a outras pessoas interessadas que não somente a esposa do visitante. Para já, é isto. O resto virá na imprensa, acho eu.

Estranha coincidência

Não sei o que se passa com a Oposição em Moçambique.
Tirando um ou outro raro momento de inspiração jurídica, no geral ela não tem um Governo-sombra que se pronuncie sobre os pelouros pertinentes, não produz ideias, não parece ter capacidade de gerar um programa alternativo.
Nas autarquias onde é Oposição, também a Frelimo entra surpreendentemente para o mesmo saco. Quer dizer, não tem um Governo-sombra que se pronuncie sobre os pelouros pertinentes, não produz ideias, não parece ter capacidade de gerar um programa alternativo.
São escalas diferentes, é verdade. Mas não deixa de ser curioso que neste pormenor os dois maiores partidos de Moçambique sejam muito parecidos.
Estranhamente, muito parecidos.

Para lidar com a crise

1º Elevar a produtividade agrícola e pecuária que envolve mais de 80% da população (...)

2º Elevar a competitividade das micro, pequenas e médias empresas moçambicanas que empregam centenas de milhares de trabalhadores e familiares com o objectivo de substituir as importações e exportar;

3º Generalizar o ensino técnico e profissional para possibilitar conhecimentos de base tecnológica e de gestão direcionados para o mercado e o saber fazer que facilite o auto-emprego(...)

Prakash Ratilal, excerto de “Moçambique: Reflexões sobre o Crescimento e Sustentabilidade”

Africa Works


O músico Youssou N´dour fundou uma instituição de micro-finanças chamada Birima, nome de um antigo rei do Senegal que se tornou famoso por honrar a palavra. A empresa de N´dour acaba de embarcar numa campanha com o Grupo italiano Benetton, com a duração de três a quatro meses, sob o lema “Africa Works”, orçada em 10 milhões de Euros.
Saída este mês na revista Marketeer, esta nova atraiu a minha atenção por duas razões. Primeiro, mostra-nos como uma certa classe de músicos lida com os negócios da vida e, segundo, ensina a muitos gestores cá da terra que as campanhas de publicidade são sempre suportadas por um orçamento, grande ou pequeno.

RM 2 - TVM 0

A partir da África do Sul, o jornalista João de Sousa tem estado a brindar-nos diariamente com um excelente lote de despachos que enriquecem os serviços noticiosos da Antena Nacional da Rádio Moçambique. Com a recente nomeação de Faustino Igreja para correspondente no Malawi, eleva-se para dois o número de correspondentes que aquela estação de rádio tem na África Austral. Não se trata propriamente de um jogo, mas não resisto à tentação de afirmar que a Rádio Moçambique já está a ganhar à Televisão de Moçambique por dois a zero.

Mugabe


O meu filho aprendeu na escola que seis países fazem fronteira com Moçambique, entre os quais o Zimbabwe.
- Mas por que é que ultimamente se fala tanto do Zimbabwe, papá?
Não tinha à mão uma fórmula para lhe enfiar numa ou duas frases simples a crise de governação em que o país vizinho está mergulhado, os velhos problemas da terra, o demónio britânico, o esquisito processo eleitoral, a desgraçada postura da SADC.
- Há meninos que têm bolas de futebol, tu sabes.
Ele disse que sim com a cabeça.
- Alguns deles não sabem perder, meu filho.
O puto fez uma careta e ficou na expectativa. Não disse que sim nem disse que não.
- Ao perderem, eles vão para casa com a bola e assim dão cabo do torneio.
- É verdade.
- Foi mais ou menos isso que fez o senhor Robert Mugabe ao saber que o povo não ia escolhê-lo de novo para presidente do Zimbabwe.
- Mas isso é batota, papá. Os presidentes também fazem batota?
- Nem todos, mas fazem.

Fingi não estar a ver que ele digeria mal a informação.
- O nosso também é batoteiro?
Ser pai também passa por meter a conversa por esses atalhos. Tive de dar a minha opinião sincera sobre o nosso presidente.

Fernando Ganhão (1937-2008)


Poema
O comboio que vem com as lúcidas nortadas
corta o veludo negro do cacimbo
e os homens nos vagões sabem a sangue
despertam as moscas de seu longo Inverno.
Os homens nos vagões
com a saudade errada de um sabor que paira
um sabor de canho e mágoa
O comboio que vem com as nortadas
derrama na savana
o leite azedo
o leite espesso
o leite antigo de uma saudade de homens nos vagões
A saudade dos homens nos vagões
é cólera, revolta e dor.
O comboio que volta durante as nortadas
fere o cacimbo da savana
com o gemido dos homens nos vagões.


Fernando Ganhão

Azagaia & Salimo Mohamed

Por mero acaso, sintonizei uma estação de rádio que passava uma voz parecida com a do Salimo Mohamed. Detive-me por uns instantes e de facto acabava de entrar em sintonia com uma animada entrevista do músico Salimo Mohamed. Pus-me a ouvir a conversa que se estendeu por cerca de hora e meia, onde contou a sua ida a pé de Maputo até Gazankulo, a sua admiração por Chico António, José Mucavele e, dentre outros, por João Cabaço, a amizade que travou em Portugal com José Cid e o seu inesquecível conselho - canta na tua língua, Simião!”. Na altura, Salimo Mohamed chamava-se Simião Mazuze e gostava de cantar na língua dos outros. Na entrevista, Salimo Mohamed tambem se definiu como um homem que gosta de aprender, mas diz não entender por que os políticos se põem a mexer no hino nacional. “Devia haver mais respeito”, afirma. A dada altura, o jornalista quer saber o que Salimo pensava de Azagaia? Achei a resposta bastante original. “O Azagaia? Gosto dele”, disse. “É um declamador muito bom, que sabe aflorar os problemas do povo!" Com esta, eu nao contava. Um remate mesmo a Salimo Mohamed.

100 Crítica

Olá, vedeta das letras, dizia o sms da Tina Mucavele. Os 100 Crítica precisam de ti para uma orgia de poesia, melodia e geografia dos sentidos, dia 10 de Abril às 19 h no Bar do Sheik, Av. Mao Tse Tung, esquina com Julius Nyerere. Não mais no Franco como havia sido publicitado. Entrada... é mahala! Mesmo verdade isso! 100 Crítica neste show são: Sininho Paco, Sheila Jesuita, Stewart Sukuma e Tina Mucavele. Convidados: Lena, Muzila, Cheny, Stelio e Naido.
Gostei do conceito do espectáculo. Muito relaxado, informal, bem preparado, esteticamente conseguido. No fim, ainda houve lugar para os presentes fazerem anuncios dos seus eventos. Muita liberdade, no bom sentido do termo. Liberdade e responsabilidade, claro. Surpreendentemente, por lá fiquei melhor informado sobre o estado da nação. (Os informes que são feitos no Parlamento apanharam um grande bigode quer na forma como no conteúdo!) Gostei de ver a Lena a cantar, a Tina a declamar, o Stewart a dedilhar a viola e o Sininho abanando o país da marrabenta com a sua demolidora declamação. Mas havia muito mais: a timbila, o batuque, as palmas, a cumplicidade dos olhares, os reencontros, os abraços, etc. E o bar, claro. Aqui ficam as minhas palmas para os 100 Crítica.

Chika Onyeani em Maputo


Afinal não é um produto do dia das mentiras. O autor de Capitalist Nigger, o nigeriano Chika Onyeani estará mesmo em Maputo para duas conferencias nos dias 16 e 17 deste mês. Há uns anos, deu que falar na África do Sul onde ainda parecia haver algumas dúvidas sobre a diferença entre a classe média negra e a classe média branca. “É simples”, disse ele. “Se os membros da classe média negra ficam sem o seu cheque mensal de pagamento, regressam de imediato para a classe dos pobres”. Ulalá! Que cartas o conferencista traz na manga para a plateia de Maputo? Até agora, nada veio cá para fora. Só nos resta, portanto, estar atentos aos jornais.

Emissão de bilhetes de identidade depende de doadores?!

Acabo de saber que a incapacidade do Estado moçambicano de disponibilizar aos seus cidadãos os bilhetes de identidade a tempo e horas não tem os dias contados. Pela entrevista concedida ao jornal Zambeze por Gabriel Machado, director da Unidade Técnica para a Reforma do Sector Público (UTRESP) fica-se a saber que a solução do problema passa por Moçambique estender de novo a mão à comunidade internacional. Para a fase inicial, são necessários três milhões de dólares americanos. O entrevistado estima que, para o processo todo, as despesas cheguem a 20 milhões de dólares americanos. Até que a filantropia estrangeira comece a dar frutos, os moçambicanos vão sendo maltratados nos bancos, nos serviços de registo e notariado, na obtenção de licenças, etc.

O nome do teu ombro

(Dedico este poema a uma mulher especial que sabe perfeitamente que Kama-sutra é muito mais do que umas tantas posições para o ano todo e uma nova marca de preservativos.)

De repente
uma fenda se ajoelha no gemido da rocha


Entre a seda dos nossos templos de medo
dos nossos juramentos
ao peso do carimbo vergados
esta carícia dos caracóis
atravessando o porto das manhãs


Estremeço

Nos idílios da Catembe
somente uma tabuleta com letras de cacimba
na doca
incrustado num gomo de lua
o nome do teu ombro


Abrigas-me do granizo
da fome
da sede que tenho das tuas lianas


Aprendo a tecer a minha sombra
no ciúme da brisa
as velas excitadas pela nortada
a ansiedade índia das âncoras
os mamilos da tua timbila bem chope


E no aroma do teu silêncio, amor
uma pauta
uma escrita na língua das flores
ou um velho cântico de pingos tamborilando
tamborilando
tamborilando os seus dedos
no secreto telhado dos nossos desejos.


Daniel da Costa