Fernando Ganhão (1937-2008)


Poema
O comboio que vem com as lúcidas nortadas
corta o veludo negro do cacimbo
e os homens nos vagões sabem a sangue
despertam as moscas de seu longo Inverno.
Os homens nos vagões
com a saudade errada de um sabor que paira
um sabor de canho e mágoa
O comboio que vem com as nortadas
derrama na savana
o leite azedo
o leite espesso
o leite antigo de uma saudade de homens nos vagões
A saudade dos homens nos vagões
é cólera, revolta e dor.
O comboio que volta durante as nortadas
fere o cacimbo da savana
com o gemido dos homens nos vagões.


Fernando Ganhão

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