Paulina Chiziane: mulheres, mulatos, assimilados, etc

Gostei de ler O Alegre Canto da Perdiz, último livro de Paulina Chiziane. Para mim, a obra é mais interessante pela intensidade com que a autora se exprime do que propriamente pela sua arquitectura romanesca. Paulina realmente discute Moçambique – a colonização, a condição feminina, o mulato, as janelas da sobrevivência, com alguns tentáculos a atingir em pleno o pós-independência. Curiosamente, ela aborda, por exemplo, a assimilação, mas retomando e aprofundando, de certo modo, o discurso oficial, a visão da assimilação como tese e sem antítese. Creio ser tempo de também se olhar para o outro lado do processo e admitir que eram filhos de assimilados a maior parte dos inquilinos da Casa dos Estudantes do Império, incluindo grande parte dos estrategas do nacionalismo africano, tendo das suas mãos brotado as primeiras versões dos estatutos dos movimentos de libertação da ex-colónias portuguesas. Uma leitura mais completa – e equilibrada - do processo de assimilação dir-nos-ia que, embora concebida para reforçar o domínio de Portugal nas colónias, a assimilação acabou por ultrapassar a caricatura dela se tem feito amiúde. O processo de assimilação também gerou as elites que se voltaram contra o sistema e não se consegue fugir delas quando se fala em nacionalismo. O apoio das igrejas a pessoas como Eduardo Mondlane não esgota o assunto. Obrigado, Paulina por esta provocação que certamente vai animar os nossos debates.

1 comentário:

Anónimo disse...

Daniel, adorei o seu blog, o seu livro Flauta do Oriente e também o Alegre Canto da Perdiz. Sem dúvida, grandes referências da literatura moçambicana. Abs, e continue blogando. Marcos Teixeira