A Travessia

A Travessia, crónica minha publicada hoje pelo jornal SAVANA. Leia aqui.

Patetice nas bombas

Na guerra pelas quotas de mercado, as empresas fazem das tripas coração para conquistar novos clientes e fidelizar os antigos. Não é por acaso que as bombas de gasolina oferecem uma série de serviços adicionais, geralmente gratuitos, como sejam a verificação do óleo do motor e da água no radiador, a limpeza dos pára-brisas e coisas que tais. Mas há um detalhe que escapa ao meu entendimento: por que carga de água os homens das bombas, sempre que podem, fingem que encher os pneus não é trabalho deles?

Citação

Now the West is asking why China and Africa are "silent" over Zimbabwe? The answer is: "constructive engagement". Do they think we have short memories?

Chris Haambote, Lusaca

in New African, nº 473, Maio de 2008

Neyma: basta uma meia dúzia de adidos

A cantora Neyma está na direcção certa. Em entrevista ao Magazine Independente, ela disse que o Governo podia fazer mais pela promoção da música moçambicana no estrangeiro. Também eu acho que sim e uma das fórmulas é até bastante velha: os adidos culturais. Com uma meia dúzia de adidos nas representações diplomáticas de Moçambique nas principais capitais da cultura e do mecenato, outro galo cantaria. Não precisamos de ir longe para testar a receita. Basta só olhar para a diferença que faz o trabalho dos adidos culturais na percepção que em Moçambique hoje temos da cultura brasileira, portuguesa ou francesa. A falta de dinheiro não explica tudo.

Citação

"Não está em causa o discurso correcto do ministro, que eu aprovo, mas questiona-se, sim, o fosso entre o discurso e o que encontramos no terreno, da falta do livro até ao pulular de pseudo-estabelecimentos de ensino superior, que ninguém manda fechar por notória falta de qualidade."
Sérgio Vieira, in Domingo, 18 de Maio de 2008, pág. 5

Craveirinha: a memória revisitada


Sempre vale a pena revisitar a memória de José Craveirinha. Leia a minha contribuição aqui. Pelos jornais, soube que por ocasião do 28 de Maio, data de nascimento do poeta, Tânia Tomé organiza hoje, quarta-feira, um recital no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Também me chegou às mãos ontem um convite para assistir amanhã, quinta-feira, ao lançamento do Núcleo de Amigos José Craverinha (NAJOC) e exposição de peças da Casa-Museu, no Instituto Camões, também em Maputo. Do resto do país, só me chegam pedaços de silêncio, o que estranhamente não me espanta. São coisas da nossa terra.

A maquilhagem do choro

A Maquilhagem do Choro, crónica publicada ontem pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada. Leia aqui.

Tenho que pensar no futuro dos meus filhos

No Brasil, já se debateu muito a questão da nacionalidade. A Primeira Dama, a dona Marisa Lula, desde 2006 que possui o passaporte da Comunidade Europeia. "Para quê?", perguntou-lhe a Imprensa. "Tenho de pensar no futuro dos meus filhos", foi a resposta que se obteve. Tal como Marisa Lula, a esposa de Gilberto Gil também é descendente de italianos e as leis desse mediterrânico país benefeciam, nesses casos, os cônjuges. Por estas alturas, o actual ministro da Cultura do Brasil já deve ser igualmente cidadão italiano. Isto, por via do casamento com a dona Flora Gil. Com transparência e sem espertezas. Porque o lema é: ou haja moral ou comam todos. É que eu também tenho filhos e preciso de pensar no seu futuro.

Kama Sutra

Após a leitura de Kama Sutra, fiquei mais esclarecido sobre os enfoques que cada um de nós usa. Nunca ninguém me tinha dito, por exemplo, que no livro de Vatsyayana, escrito há mais de 2000 anos, se podia aprender que o tempo é um recurso escasso e que por isso os homens deviam ter cuidado com a sua forma de emprego no dia-a-dia. Segundo o autor, só alcançam a felicidade os homens que souberem dedicar uma parte da sua vida a constituir património e amigos, outra a gozar a vida em toda a sua plenitude através dos cinco sentidos e outra ainda, a última, munindo-se de ferramentas espirituais para a grande viagem depois da morte. Nos seus comentários, os meus amigos ficavam-se pelas posições sexuais e não muito mais do que isso infelizmente. Leiam de novo o Kama Sutra, por favor.

O Olhar de Salinga

O Olhar de Salinga, crónica publicada hoje pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada.

Parabéns LAM

No dia 14 de Maio, a LAM comemorou o seu 28º aniversário, oferecendo aos passageiros vôos com uma hora de atraso. Juntei-me à festa da nossa única escolha, fazendo o trajecto de Nampula a Maputo. Tive uma agradável surpresa ao folhear a revista de bordo (nrº 43, página 6). A LAM diz que o Indice de Pontualidade dos Vôos subiu para 89,5 por cento, «valor considerado de referência na indústria de aviação civil mundial». Uma maravilha!

LAM: ao que chegamos!

O meu vôo para Nampula estava marcado para as 13 horas. Depois, foi alterado para as 16.30 horas, com almoço, que declinei, oferecido aos passageiros num restaurante perto do aeroporto. A seguir, o descalabro foi total. As Linhas Aéreas de Moçambique decidiram adoptar o rumor como ferramenta de trabalho e por essa via ficamos a saber que só se sairia de Maputo - em princípio - às 21 horas!!! Aproveitei dar um salto à casa para partilhar convosco esta vergonha a que a LAM chegou, com atitudes que revelam uma total falta de respeito para com os seus passageiros. O absurdo desta falta de profissionalismo é que nem o Serviço de Informação instalado no aeroporto tinha informação sobre esta última alteração. Mas como não tenho outra escolha, daqui a nada, tenho de voltar ao aeroporto e francamente não sei o que me espera para lá dos irrecuperáveis estragos que me aguardam em Nampula. Simplesmente, é inadmissível, meus senhores!

A bandeja de Songai

A bandeja de Songai, crónica publicada hoje pelo jornal SAVANA na rubrica Favolo Nada.

Adesão, aderência e manifestações

Ultimamente tenho ouvido falar com frequência de manifestações e de aderência. Fraca aderência das pessoas para aqui, forte aderência das pessoas para ali. Na rádio, nos telejornais, em quase toda a parte.Que eu saiba, o termo mais apropriado para descrever a participação das pessoas nas manifestações seria adesão. Os sapatos dos manifestantes é que podem ter problemas de aderência ao asfalto, seja ele de betume, de pedras ou blocos de cimento. Se os sapatos aderem bem ao piso, ninguém escorrega. Se os sapatos tiverem problemas de aderência – e não de adesão – muitos manifestantes vão de certeza escorregar, podendo até cair, à chegada dos agentes da Polícia.

Citações

O consumo do arroz em Moçambique atinge actualmente as 500 mil toneladas anuais, das quais 450 mil (90%) são importadas, particularmente do mercado asiático.

Boaventura Mucipo, in O País, 25.04.2008

Temos a experiência do do arroz do Chókwè nos anos 80. Nessa altura, era o arroz mais caro do mundo. O ponto não é produzir dentro de Moçambique; é produzir dentro de Moçambique com uma base sólida e competitiva. Se somos capazes de fazer isso, óptimo vamos fazer.

Carlos Nuno Castel Branco, in O País, 25.04.2008.

Estudar, estudar, estudar sempre, dizia o slogan do PREC (Processo Revolucionário em Curso). Como não deu certo, foi-se ao plano B: "todas as escolas, a qualquer nível, TÊM DE TER 99 por cento de aproveitamento anual". Ora muito obrigado!

Fernando Manuel, in Savana, 25.04.2008

O julgamento teve um atraso de vinte minutos porque Anibalzinho não queria abandonar a cela antes de tomar o pequeno-almoço.

Raul Senda, in Savana 25.04.2008

O primeiro a cair...

Em 2003, Raila Odinga insurgiu-se contra uma lei herdada do tempo colonial que veda o acesso às sessões do Parlamento queniano a quem use roupas africanas. Na altura ele era Ministro das Estradas, Obras Públicas e Habitação, apresentou-se no Parlamento sem o fato nem a gravata da praxe. Resultado: foi expulso da sala. O combativo político voltou à carga em sessões seguintes e, para acalmar os protestos, o Presidente do Parlamento autorizou a entrada de Odinga e dois colegas seus em trajes africanos, prometendo entretanto que se iria reflectir profundamente sobre assunto. Curiosamente, a lei ainda está em vigor - 44 anos após a proclamação da independência! - e Odinga agora é Primeiro-Ministro. Os observadores morrem de curiosidade para saber quem cairá primeiro: a lei ou Odinga?