Aguardente de maçanica, cegueira e mitos

O jornal Domingo publicou há semanas um interessante suplemento de saúde que é uma autêntica pedrada no nosso charco editorial. Está de parabéns o seu coordenador, o meu amigo André Matola. Tomei nota, entre outras coisas, que afinal não passa de mito a tese segundo a qual a aguardente de maçanica é a responsável pela proliferação de cegos na cidade de Tete. De acordo com a publicação, o álcool que se obtém da maçanica é etílico e não metílico. Este último, sim, pode levar-nos à condição de cegos. Doravante, a aguardente de maçanica passa a estar nos meus miolos acima de qualquer suspeita. Deliciem-se com a bebida, mas, é claro, nada de exageros.

Maldade municipal

Em Inhambane, os serviços municipais entenderam colocar uma lomba clandestina à entrada da cidade, quer dizer, sem nenhuma sinalização que alerte os automobilistas, especialmente os forasteiros, para a aproximação ao obstáculo. Para uma terra que é conhecida como sendo da boa gente, aquela armadilha só pode ser resultado de uma maldade municipal.

Amarelo e preto é mesma coisa!

Cai de quatro quando soube que os chineses afinal são pretos. Isto, pelo menos na África do Sul onde a sua comunidade chega a atingir o número de 250 mil pessoas. No despacho lido pelo jornalista João de Sousa, a partir de Pretória, ficou claro que a recente mudança de cor tem mais a ver com mecanismos de enriquecimento e menos com a a epiderme. Sendo pretos, os chineses passam a estar abrangidos pela política do black empowerment, com claros ganhos económicos. É por estas e outras que sempre olho com desconfiança para a retórica da classe política seja ela de onde for.

Citação

Timor não é um país de língua portuguesa nem a maioria dos timorenses fala português.

Mia Couto, in suplemento cutural do Noticias, 18/06/2008

De sul a noroeste

Recentemente, fiz por estrada o percurso que vai de Maputo ao Songo, sede do distrito de Cabora Bassa, com escalas demoradas em Inhambane, Massinga, Vilankulo, Chimoio, Vandúzi e Catandica. No Sul, o troço está péssimo a partir de Massinga. Cerca de duas horas depois, a dor de cabeça passa. Já no Centro, volta a haver problemas sérios entre as sedes de Guro e Changara: há mais buracos do que asfalto. No resto, uma maravilha.

Mambas, cães e derrotas


Está quente o debate sobre o ciclo de derrotas dos Mambas, a nossa selecção nacional. Através da Rádio Moçambique, um ouvinte fez há dias uma velha sugestão à Federação Moçambicana de Futebol: mudar o nome da equipa de todos nós. Mas para mim, a novidade extrema está no argumento. Ele observou que as últimas selecções que nos bateram têm quatro patas. Melhor, têm nome de animais quadrúpedes, enquanto nós continuamos, se calhar, a única selecção de futebol no mundo a ostentar o nome de réptil. Genial o argumento e nada tenho contra a ideia de deixar de rastejar. Acho bem sacudir a poeira, mas não nos esqueçamos do ensinamento de um velho linguista: o cão ladra, meus amigos, mas a palavra «cão» não ladra nem morde. A foto do adepto destroçado que a Cláudia Manjate me enviou por e-mail veio mesmo a calhar. Pena que não saibamos, ela e eu, quem é o autor da foto que apanhou bem o efeito das quatro patas.

Por acaso...



Por feliz acaso, trabalho com Regina Duarte que me convidou para ver a exposição do marido. Lá dei um jeito na agenda e consegui acomodar o momento especial de uma camarada cujo marido, por acaso, tirava fotografias. O que vi lá, isto é, no Franco-Moçambicano há semanas foi muito mais do que as fotografiazinhas de um marido dedicado. Descobri foi um grande artista da imagem chamado Bernard Adrien e que é o autor da foto que ilustra este post.

Eu e o Mosquito

Eu e o Mosquito
trepamos as quatro paredes
do meu quarto,
olho no olho,
cada um se esmerando
para matar o outro.
Enclausurado o veneno
em cada uma das quatro patas
traçamos de combate, as estratégias
estudamos o currículo do inimigo,
pleno de condecorações,
súbito, o medo nos dilui e nos mata,
mas ainda trocamos o último olhar,
o olhar do nojo, de sabermos
que nós os dois, o Mosquito e eu,
somos os animais,
que mais matamos no mundo

Mbate Pedro in O Mel Amargo

Barak Obama derrota Hillary Clinton


Imposto abrange juros dos depósitos a prazo

Apesar da crónica alergia à transparência e à cultura de prestação de contas, o Estado moçambicano não pára de me surpreender com a sua capacidade de ir ao bolso dos cidadãos. Por força da lei 33/2007, os bancos comerciais foram obrigados a pendurar este aviso nos seus balcões: Desde 1 de Março de 2008, os juros dos depósitos a prazo obtidos por pessoas singulares são considerados rendimentos de capitais, estando sujeitos a IRPS, por retenção na fonte à taxa de 10 por cento. Agora aguardo pela chuva de apelos para a poupança e para se meter mais dinheiro nos circuitos formais. Que incoerência!

Rosa Langa fala de mulheres no Brasil

É sempre agradável receber um telefonema de longe. Aconteceu-me há dias, era uma chamada da Rosa Langa, jornalista e autora de Moçambique, Mulheres e Vida, a informar-me da Alemanha que, a partir de amanhã, dia 4, estaria no Brasil. Os jornais brasileiros já noticiam a presença da baixinha pelas bandas do Rio de Janeiro, onde vai dar uma conferência no quadro do Festilip, Festival de Teatro da Língua Portuguesa. As notícias também já dão conta do Gungu e do Mutumbela Gogo entre os grupos participantes. Assim é que é, Moçambique, com uma delegação de peso - com adidos culturais ou sem eles, não é, ó Bayano? E a coisa vai até 15 de Junho.

Xenofobia nos tribunais

Não à retaliação, é verdade. Mas tónica também deve ser dada à responsabilização: os mentores dos ataques xenófobos devem ser levados à barra dos tribunais. Neste ponto, o bispo D. Paulo Mandlate tem toda a razão. Porque tem de haver um mecanismo dissuasor mais forte que os discursos de condenação pública e as forças armadas sul-africanas a patrulhar as ruas. Nós não temos fibra para andar a activar e desactivar o Centro Nacional Operativo de Emergência a toda a hora, com o agravante de os nossos compatriotas estarem a regressar ao país para casa nenhuma. De resto, oiço falar dessa xenofobia desde os anos 80 mas parece que só agora é que a coisa tomou proporções assustadoras.

Menos uma dor de cabeça!

Ao folhear as revistinhas de que sou assinante, descobri este fim-de-semana uma novidade que certamente vai fazer muita diferença na vida de muito boa gente, especialmente entre as pessoas que por razões de ordem diversa têm estado a andar com mais de um telemóvel de um lado para o outro. A SAMSUNG acaba de lançar o primeiro modelo que permite juntar num único telemóvel dois cartões SIM, com números diferentes, podendo o utilizador operar com ambos sem ter de reiniciar o equipamento. O modelo de estreia desta tecnologia é o novo SGH-D880. Com a nossa onda do "estamos juntos" e do "tudo bom", estou quase certo de que a cena vai fazer muito êxito por estas bandas.